Nora de mulher que fez bolo é presa por suspeita de envenenamento em Torres, diz Justiça; três pessoas morreram
Deise Moura dos Anjos é nora de Zeli dos Anjos, de 60 anos, uma das vítimas que está internada. Ela responderá por triplo homicídio duplamente qualificado ...
Deise Moura dos Anjos é nora de Zeli dos Anjos, de 60 anos, uma das vítimas que está internada. Ela responderá por triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada. Bolo de Natal: mulher é presa por suspeita de envenenamento no RS A nora da mulher que preparou o bolo que matou três pessoas em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul, em dezembro, foi presa neste domingo (5) por suspeita de envenenar o bolo. Ela foi identificada pelo Tribunal de Justiça (TJ) do RS como Deise Moura dos Anjos. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Segundo a polícia, a mulher teve prisão temporária decretada por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e três tentativas de homicídio duplamente qualificado. Ela foi conduzida para a Delegacia de Polícia de Torres e está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres. Segundo o TJ, Deise deve passar por audiência de custódia na tarde desta segunda-feira (6). Em nota, a defesa de Deise diz que "não teve acesso integral à investigação em andamento, razão pela qual se manifestará em momento oportuno". Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar bolo que matou três pessoas no RS Arquivo pessoal Três pessoas morreram após consumir o bolo: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos. Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres A polícia investiga a presença de arsênio no sangue das vítimas, constatada após exames do hospital onde os sobreviventes estão internados. A origem do contaminante ainda é investigada. Arsênio é um elemento químico liberado no ambiente de maneira natural ou pela ação do homem e componente usado na fabricação de alguns pesticidas. A exposição a arsênio pode causar intoxicação alimentar e reações similares a alergias, câncer em caso de exposição recorrente, e até morte. De acordo com o boletim médico, a mulher que preparou o bolo, Zeli dos Anjos, de 60 anos, está hospitalizada em estado estável. A criança de 10 anos que também comeu o bolo recebeu alta na sexta-feira. Bolo que teria causado envenenamento ou intoxicação Divulgação/Polícia Civil Polícia investiga morte de 3 mulheres após comerem bolo de Natal Gosto estranho As pessoas que consumiram o bolo notaram um gosto estranho ao ingerir o doce, segundo o delegado do caso, Marcos Vinícius Veloso. O alimento, com sabor apimentado e desagradável, foi percebido logo nos primeiros pedaços. Zeli chegou a interromper o consumo ao perceber as reclamações. "Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela meio que colocou a mão assim em cima do bolo, [e falou] 'e agora ninguém mais come'. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento", diz o delegado. Família diz sentir "gosto estranho" ao consumir bolo que matou três pessoas em Torres, RS O marido de Neuza, que não consumiu o bolo, não apresentou sintomas. E o marido de Maida comeu o bolo, foi hospitalizado, mas já teve alta. Os nomes deles não foram oficialmente divulgados. Bolo de Natal no RS: três das pessoas que comeram, morreram: Neuza, Maida e Tatiana. Reprodução/TV Globo A Polícia já ouviu cerca de 15 pessoas no inquérito. Zeli dos Anjos deve ser ouvida pela polícia quando estiver em melhores condições. No dia 27 de dezembro, policiais foram às casas de familiares em Canoas, Arroio do Sal e Torres para coletar mais elementos para a investigação. Conforme a polícia, a família tinha boa relação e até o momento não é cogitado que haveria disputa por eventual herança. Os laudos periciais no bolo, que têm previsão de ficarem prontos na próxima semana, poderão apontar se houve contaminação cruzada de alimentos e o que havia no bolo. Análises apontam arsênio Exames identificam arsênio no sangue de pessoas que comeram bolo Os resultados das primeiras análises laboratoriais, coletadas pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, indicaram presença de arsênio no sangue de uma das vítimas e dos dois sobreviventes que comeram o bolo. A substância é extremamente tóxica e pode levar à morte. Foram analisados o sangue da mulher que preparou o bolo, do sobrinho-neto dela – uma criança de 10 anos – e de Neuza Denize Silva dos Anjos, que morreu. Relembre o caso De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. Zeli, que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada. Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada "choque pós-intoxicação alimentar". O que é arsênio, substância encontrada no sangue da família Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, que conduz as investigações, Zeli foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. A maior concentração do veneno foi encontrada no sangue dela. A investigação encaminhou os corpos das três vítimas para necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP), órgão responsável por atestar a causa da morte. Resultados devem ser divulgados nesta semana. O que é arsênio Conforme André Valle de Bairros, professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é o elemento químico, enquanto arsênico é denominado para o composto trióxido de arsênio. "O arsênico trata-se da forma mais tóxica. A partir de 100 mg é possível a morte de um indivíduo adulto. Geralmente, o arsênico está na forma de pó e não tem cheiro ou gosto. Apesar de ter sido usado como raticida, esta droga pode ser empregada para fins de tratamento oncológico em pacientes com leucemia promielocítica aguda e é comercializada como Trisenox", explica o especialista. Bairros assinala que arsênico é proibido de ser comercializado no Brasil como raticida e o uso como agente quimioterápico é restrito. "O arsênio é um elemento de alta toxicidade conhecida pela humanidade e sempre houve um certo temor. Há locais no globo terrestre ricos em arsênio, e isso contamina fontes de água. Mas é algo que precisa ser muito investigado. Há literatura científica, e de fato, há essa contaminação em leite, carne e frutas, porém, o fato de estar expostos a concentrações maiores de arsênio não significa necessariamente uma intoxicação", acrescenta. VÍDEOS: Tudo sobre o RS